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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O CAPITALISMO E A PESSOA - Capitalismo, Globalização e Relativização






O
capitalismo bem como suas vertentes não são um mal em si. As transformações, no sistema capitalista nesse caso, de ordem política e econômica, conhecido como Neoliberalismo, acontecem para atender às necessidades da época. O surgimento dos blocos ou conglomerados que veio a ser chamado de globalização, se deu como forma de se fortalecerem as empresas e seus países, visando a enfrentarem as adversidades que ocorrem no mundo da concorrência, e ainda se expandirem e conquistar novos mercados. Isso não é um mal e se fosse visto pelo lado mal seria como um mal necessário. Se vivido de uma forma ampla e contemplasse também as áreas sociais seria até positivo.


Porém, o que corrói qualquer sistema é o seu uso, no caso, o individualismo intransigente que na sede de poder, vai às últimas consequências e incapacita a pessoa de fazer um juízo das coisas. Assim, não se respeita as individualidades que constitui o caráter distintivo de cada pessoa e de cada classe social a qual pertença.  Então se vale de maneira determinada da imposição e controle naquilo que interessa à reprodução do capital. Isso produz a centralização da riqueza em quem detém o capital, concentra-a nas mãos de poucos, tendendo a aumentar a pobreza de muitos, que se vêem inibidos e incapazes de sonhar e lutar por melhores condições de vida.
Eu diria que é a forma moderna de “mais-valia” (termo usado por Karl Marx) que contempla unicamente quem detém o capital, o qual exerce o controle sobre o outro ditando-lhe regras as quais colocam  sempre em desvantagem o que depende do capital. Assim compromete as áreas sociais e as colocam em posição de inferioridade em relação às que produzem capital. Isso tem  consequências para toda a sociedade, mas a consequência mais séria está no que isso é capaz de fazer com a humanidade do homem: perde-se a razão ou corrompe-a,  e, num dado momento, se não se cuidar a pessoa perde a sua identidade de homem ou mulher,  enquanto ser moral. Porque o dinheiro e a riqueza passa a ser o seu mundo e nesse mundo não há espaço para as relações fraternas, e até os membros da família sofrem as consequências disso. É por isso que Cristo diz que não se pode servir a Deus e ao dinheiro”...


Os dizeres de Cristo são como um alerta para o perigo de se seduzir pelo dinheiro. O dinheiro é importante para atender o homem em suas necessidades, mas quando passa a ser a sua única motivação a pessoa perde a racionalidade, perde a capacidade de refletir sobre a verdade de tudo que o rodeia, porque ofusca-lhe a razão. A razão é o que há de mais importante no ser humano, e o que o difere dos animais que agem por instinto apenas.  É a razão que permite ao ser humano a coerência, porque a razão é a capacidade de racionar para compreender e poder estabelecer comparações e se chegar a verdade. Pois bem, com a razão comprometida, o homem não questiona, ele relativiza tudo. Aí ele relativiza a verdade. É como se a verdade, o certo ou errado, dependesse das circunstâncias,  então a verdade passa a ser tudo ou nada, dependendo da forma como ela é abordada e da visão de quem deseja fazer que ela seja verdade. É por isso que assistimos a muitas mentidas sendo veiculadas como verdades absolutas e uma delas é a própria felicidade. A felicidade é passada para as gerações presentes como se fosse resultado de uma juventude saudável e competitiva, como se a felicidade estivesse no sucesso, em ser bem sucedido na vida. Daí a busca pelo corpo belo e as mais diversas formas de rejuvenescimento, sem contar a invasão dos métodos de emagrecimento, para se ter um belo corpo. 
O que está em voga é o "novo" e, por isso cria-se a necessidade de consumir sempre o novo, o último lançamento. O que deixa de ser novo é “fora de moda” e descarta-o. E não se questiona se esse proceder está criando inecessidades e transformando o nosso ambiente em um tremendo depósito de lixo. Basta olhar os armários e gavetas de nossa casa, quanta coisa inútil que guardamos pensando ser útil um dia, mas passa ano e sai ano e não a utilizamos, porque outras novas vão tomando o seu lugar e nossas gavetas vão ficando abarrotadas. Por isso é necessário termos um olhar mais atento com a “indústria da felicidade”, que quer nos controlar das mais diversas formas, nos viciando das mais diversas maneiras. 

Se observarmos na nossa própria experiência, vamos perceber que a felicidade está além do dinheiro e da posse das coisas. James C. Hunter em O Monge e o Executivo, no segundo capítulo de nome O Velho Paradigma diz: “não são as coisas materiais que nos trazem alegria na vida pois os maiores prazeres da vida são totalmente grátis”. Evidentemente ele está falando sobre a satisfação humana, numa abordagem psicológica. Sabemos, porém, que o dinheiro é uma forma de garantir a sobrevivência e independência econômica e essas coisas são importantes e fazem parte da realização da pessoa e não pode ser descartado. Contudo o dinheiro é o meio, não o fim e o seu valor está naquilo que ele pode contribuir para satisfação das necessidades básicas primárias. 


As maiorias das necessidades que nos são colocadas são completamente discutíveis, podendo em muitos casos até ser fúteis e inúteis. E para satisfazer "tais necessidades" vamos ficando tão comprometidos com afazeres não tão importantes, mas que estão em voga, como jogos em celular, redes de compartilhamento, etc., que perdemos horas com essas coisas e deixamos coisas importantes de lado, como usufruir da companhia de amigos, visitar alguém que precisa de uma palavra. Ninguém tem tempo de "perder tempo" com o outro, o outro que interfere na rotina é sempre um estorvo, e esse outro pode ser aquele que está dentro da própria casa, ou um vizinho, ou alguém que precisa de atenção.

O humano é racional e “tridimensional”, isto é, constituído por corpo, espírito e psiquismo que é o conjunto das características psíquicas de um indivíduo, as quais estão envolvidas a emoção. Há muitas outras coisas em jogo no ser racional, como outras aspirações e não apenas as materiais que precisam ser satisfeitas para que ele se sinta bem, como, amar e ser amado pelo que se é, como pessoa e não como detentor de capital e riqueza.
A maior contribuição que o dinheiro pode dar ao homem não é guardá-lo, ou acumulá-lo, ou gastá-lo com aquilo que transcende o necessário. É poder investi-lo em algo bom, que contemple e beneficie a um maior número de pessoas. Esse é o serviço que o dinheiro presta a quem o possui, contemplar outros. A alegria que se experimenta em ajudar o outro a crescer e se tornar independente é algo impagável, valioso e faz com que a pessoa se sinta livre, completamente livre. Porém, acumular dinheiro ou gastá-lo visando apenas o prazer pessoal é uma ideia centrada em si unicamente, e não faz a pessoa se sentir livre, ao contrário, gera a insegurança, o medo de aplicar mal o dinheiro, o medo de ficar menos rico ou mais pobre, o medo do sofrer sequestro, o medo de não ser bem aceito, etc. Ninguém é feliz vivendo paranoicamente, isto é, apegado ao dinheiro egoisticamente. Quem assim vive experimenta uma instabilidade emocional que não tem tamanho e os problemas existenciais virão a tona, como uma forma de chamar a atenção para uma mudança de atitude que vá de encontro à verdade da pessoa que está bem escondida dentro de si e que é a sua essência, e às vezes se encontra em perigo e tem que pedir socorro.






Geovani
Novembro/2013

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